Somente em 2023, o Dólar variou de R$ 5,51 a R$ 4,90. O sobe-e-desce da moeda – utilizada em escala global – naturalmente impacta a economia e os negócios de diferentes formas. No caso das empresas que vendem para o exterior, o valor mais baixo não é bom. “A depreciação do câmbio é mais um dos problemas que tem impactado o cenário das exportações moveleiras, o que traz uma tendência de redução nas margens”, comenta o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário (Sindusmobil) de São Bento do Sul, Luiz Carlos Pimentel. E, ao mesmo tempo, conforme ele, há uma dificuldade maior de negociação com importadores.
“O setor registrou alta nos insumos e, nos últimos meses, uma redução dos pedidos de exportação, devido principalmente à alta da inflação nos países europeus e nos Estados Unidos. Além disso, vários importadores têm segurado o embarque de produtos já fabricados”, relata. “Trabalhar no mercado internacional é extremamente desafiador, o que exige alta flexibilidade na produção e cuidados rigorosos com as finanças das empresas. Espera-se que o cenário melhore gradativamente, nos próximos meses, para que haja maior estabilidade na economia e, como consequência, na política cambial”, destaca.
“A falta de estabilidade não é saudável para as empresas”, atesta o presidente da Associação Empresarial de São Bento do Sul (Acisbs), Gilmar Weiss. “O ideal”, conforme ele, “seria um horizonte mais seguro” com relação ao tema. “Para os exportadores, nesse momento, é necessário reduzir custos e tornar produtos mais competitivos no mercado, o que já é algo histórico do setor”, aponta. Mesmo segmentos que no momento são favorecidos com o Dólar mais baixo podem ter um benefício temporário, acredita Gilmar.
“Várias entidades cobram do governo e dos representantes federais para que sejam tomadas medidas diante desse mercado inseguro. Que nos próximos meses possamos ter políticas responsáveis dos governantes, para termos estabilidade econômica e retomada do crescimento”, comenta o presidente da Acisbs.
Vários fatores envolvidos
Empresário, conselheiro de empresas e diretor de Comércio Exterior da Acisbs, Jonathan Roger Linzmeyer esclarece que a desvalorização do Dólar perante o Real tem vários fatores envolvidos. “Entre eles, o principal neste momento é a entrada de dólares no Brasil, o que acaba naturalmente valorizando a moeda brasileira. Um dos motivos é o fim do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos e o início de uma recessão americana”, comenta. Porém, conforme lembra ele, a taxa de câmbio é influenciada por muitos fatores. “A previsão de seu comportamento é uma tarefa complexa e incerta”, resume.
Várias questões influenciam diretamente as realidades do Brasil e dos Estados Unidos. “A política monetária do Banco Central do Brasil e do Federal Reserve (Fed, banco central americano) dos Estados Unidos pode ter um impacto significativo na taxa de câmbio. Se o Banco Central do Brasil aumentar as taxas de juros em relação ao Fed, isso pode fortalecer o Real em relação ao Dólar. Por outro lado, se o Fed aumentar as taxas de juros em relação ao Banco Central do Brasil, o Dólar pode se fortalecer em relação ao Real”, diz.
Já se a política fiscal do Brasil resultar em aumento de gastos públicos e da dívida pública, a confiança dos investidores no Real vai cair, fazendo com que a moeda americana se valorize em relação à brasileira, ressalta Jonathan. No caso do comércio entre os países, ele observa: “Se o Brasil exportar mais do que importar dos Estados Unidos, isso pode aumentar a demanda pelo Real e fazer com que a moeda se valorize em relação ao Dólar. Mas, se o Brasil importar mais do que exportar dos Estados Unidos, isso pode aumentar a demanda pelo Dólar e fazer com que a moeda se valorize em relação ao Real”.
Resultados do setor
Apesar de terem aberto o ano em queda, as exportações brasileiras de móveis e colchões voltaram a crescer em fevereiro de 2023, como já previa a Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel). No segundo mês do ano, conforme os dados mais recentes divulgados pela entidade, as exportações do setor totalizaram US$ 49,4 milhões. Resultado que simbolizou uma alta de 9,6% quando comparado com o mês anterior.
O crescimento na passagem de janeiro para fevereiro, contudo, não foi o bastante para contornar o recuo acumulado no primeiro bimestre de 2023, quando somou US$ 94,6 milhões em valores exportados. Ficando, dessa forma, 27,5% abaixo do desempenho da atividade em igual período em 2022. Nos últimos 12 meses, as exportações brasileiras de móveis e colchões acumulam queda de 16,9% em receita.
“As exportações brasileiras de móveis vão além da venda de produtos, pois elas representam a exportação de materiais únicos, de inovação, design, sustentabilidade, estilo de vida e uma marca forte que o Brasil tem conquistado no mercado internacional”, registra o presidente da Abimóvel, Irineu Munhoz.
Viagens internacionais
Enquanto para os exportadores o Dólar baixo não é bom, para outros segmentos o atual valor da moeda americana perante o Real é positivo em determinadas situações. A gerente comercial da Adriática Turismo, Suéli Zierhut Witt, conta que na agência, por exemplo, aumentou a procura por viagens internacionais. “Reflexo, também, da diminuição das restrições do período da pandemia”, pondera, relatando que os clientes têm aproveitado o momento para programar viagens internacionais, tanto a negócios como a lazer.
“Europa e Estados Unidos são os destinos internacionais mais procurados. Atualmente, com a chegada da temporada de neve na América do Sul, também estamos tendo uma grande procura por esse destino”, expõe, comentando que, independentemente da atual baixa do Dólar, a procura por viagens nacionais continua.
*Com informações de Elvis Lozeiko/Jornal A Gazeta