Se a pandemia revolucionou a forma de fazer negócios por todo o mundo e instaurou o “novo normal”, o ano de 2022 provou que a adaptação global às mudanças e consequências desse evento histórico será um processo longo e complexo.
Após um ano agitado em todo o mundo, o Brasil contou ainda com a eleição, pode-se dizer sem grande risco, mais acirrada e polarizada de sua história. O mercado local, agora, se vê diante do desafio de adaptar-se não só às transformações estruturais que a pandemia trouxe, mas também às mudanças sazonais que ocorrem de um governo para o outro.
Especialmente quando se trata de administrações que, como tudo indica, serão não só diferentes, mas opostas.
Neste conteúdo, conversamos com três empresários que abordam como foi o ano de 2022 para as suas empresas e como enxergam o ano que está por vir, possíveis cenários e a reação dos mercados internacionais. A partir de suas opiniões, iremos pontuar variáveis, tanto globais como locais, que podem influenciar 2023. De antemão, apresentamos diferentes possibilidades de ação a partir do que pode acontecer no cenário internacional.
Buscamos conduzir nossos apontamentos partindo do contexto global, mais amplo, até o mais específico e local, o seu, brasileiro atuante no Comércio Exterior. Se você quer estar preparado para agir com segurança e consistência em 2023, leia até o fim!
O mundo, em especial no que diz respeito ao comércio exterior e logística internacional, viveu ao longo desses últimos três anos tempos realmente atípicos. A pandemia no início de 2020 trouxe inúmeras incertezas ao mercado internacional, que ficou represado na maior parte do ano.
Para o diretor da B&M Log, Alexandre Bini(foto), já no ano seguinte, houve uma retomada das atividades, porém com a oferta de provedores logísticos ainda diminuída (tanto em capacidade de carregamento quanto em mão de obra qualificada), mantendo os níveis de oferta semelhantes ao do período pandêmico, porém com a demanda fortemente catapultada. Isso resultou em uma inédita disparada dos custos logísticos, em todos os modais. Alia-se a isso outros fatores externos, como aumento da demanda por insumos, greves, falta de matéria prima, lockdown chinês, etc.
Para 2022, a expectativa era que o cenário se mantivesse, porém com uma gradual volta aos padrões ditos normais no que diz respeito à oferta de espaço nas companhias aéreas e marítimas, com consequente queda nos custos logísticos. Isso de fato aconteceu ao longo do ano, em especial no segundo semestre. Esse movimento foi também reflexo da readaptação do mercado a política “COVID zero” implantada pela China, que vinha afetando a produção e fornecimento de insumos daquele país, fazendo com que os compradores fossem forçados a alterar sua cadeia produtiva, seja buscando novos fornecedores em outros países, seja adequando seu produto a nova realidade, inclusivo tempo de espera. Isso tudo fez com que os custos logísticos, nos principais trades internacionais, sofressem uma queda acentuada nos valores de fretes.
Como exemplos reais, o frete marítimo para containers de 40 pés entre o Far East e os EUA caiu de um valor médio de US$10,000.00 para um valor médio de US$ 3,000.00 entre janeiro e novembro de 2022. Globalmente, no mesmo período, o frete médio para containers de 40 pés caiu de US$ 8,500.00 para US$ 3,500.00.
Ainda de acordo com Bini, um cenário de incertezas ainda paira sobre o mundo do comércio exterior para 2023. Apesar da China mostrar que começou a flexibilizar sua política, permitindo uma maior produtividade em suas indústrias, ainda temos no horizonte uma crise energética, em especial na Europa e rumores sobre uma recessão global vindos dos mercados financeiros. Para aumentar o cenário de incertezas, no mercado interno, temos a provável alteração nas políticas econômicas e regras que afetam diretamente o comércio exterior (tais como políticas cambiais, acordos bi ou multilaterais, incerteza jurídica e falta de clareza, até o presente momento, sobre a equipe que comandará tais tópicos no governo eleito). Quanto ao mercado financeiro, o Banco Central deixa clara sua política de manter a taxa SELIC alta, o que torna o crédito mais caro, reduzindo a capacidade de investimentos.
O somatório de todos estes pontos tem feito com que o empresário empreendedor brasileiro tenha se tornado muito mais cauteloso quanto a novos investimentos e expansão de negócios, pois apesar do empreendedorismo ter sempre sua parcela de risco, a linha do aceitável tem se tornado elástica demais, fazendo o empresariado tornar-se mais cauteloso e menos agressivo em seus investimentos. O reflexo disso já é visível em alguns pontos da cadeia logística, situação que deve continuar pelo menos até todas as incertezas citadas tornarem-se mais claras, dando ao setor produtivo um pouco mais previsibilidade quanto ao retorno de seus investimentos.
Por outro lado, não são só as empresas de Comércio Exterior que demonstram uma certa preocupação com o ano que vai surgir. Em conversa com o gerente de logística e suprimentos da Ciser, Marcelo Merkle, a pandemia continua impactando o setor. 2022 continuou sendo impactado pela pandemia de COVID-19 no Brasil e principalmente na China. Gerando atrasos e problemas de atendimento. A guerra Rússia x Ucrânia também foi um acontecimento não previsto e que gerou um desbalanceamento das cadeias de suprimentos, principalmente as ligadas ao petróleo e ao gás, afirma Merkle. ‘’O Brasil também foi impactado pelo acirrado processo eleitoral que afetou e reduziu o mercado neste segundo semestre. E para encerrar o ano tivemos o efeito Copa do Mundo’’, complementar Merkle.
Para 2023, teremos que aguardar as medidas econômicas que o governo eleito irá determinar a partir de janeiro/2023. Portanto o primeiro trimestre tende a ser de estudo para tomada de decisões futuras. Mas acreditamos que poderemos crescer nossa participação no mercado, comenta Merkle. ‘’Continuamos acreditando no potencial do mercado brasileiro, mas vamos intensificar nossas ações de Exportação para os países do continente americano, principalmente Estados Unidos, Canadá e países do Mercosul,’’ finaliza.
Para o empresário e conselheiro consultivo de empresas e entidades, Jonathan Roger Linzmeyer(foto), o ano que está terminando foi de grandes expectativas, pois todos esperavam a ‘’retomada’’ da normalidade após a pandemia. ‘’O que aconteceu efetivamente em alguns países do mundo, porém não em todos. Por exemplo a China que até o terceiro trimestre do ano, ainda estava aplicando política zero de COVID. Restrições que atrasaram a logística internacional, decisões tomadas na china, afetaram a logística mundial e de forma direta em negócios no Brasil, bem como a importação de produtos acabados vem crescendo a cada ano e ainda dependemos de muitas importações de matérias-primas vindas da China’’, salienta Jonathan.
Acompanhando este pensamento, também podemos afirmar que o continente europeu registrou uma situação de crise extrema, vindo a afetar diretamente a exportação do Brasil para os principais países europeus. Os Estados Unidos, na sua magnitude econômica, ainda tentam controlar a inflação, porém sem sucesso, o que gera uma preocupante recessão econômica, que também afeta diretamente as exportações. ‘’ Em si, 2022 foi bom, com leve crescimento nas exportações e importações, porém com as “pausas” devido às eleições e crises políticas no Brasil, muitos empresários seguraram seus investimentos no último trimestre. Na balança comercial, o Brasil bate recordes, mas deve ser avaliado os setores de crescimento como o Agro e as comodities’’, afirma.
Para o ano que está por vir, a expectativa vai pairar separadamente em cada ministério no do novo governo eleito. Segundo Jonathan, teremos alguns ministros extremos na linha do “progressismo” e não temos a mínima ideia dos planos e ações que devem tomar ao assumir dia 01 de janeiro. ‘’Na outra ponta, teremos um congresso de direita/centro. O governo vai ter que negociar muito no congresso para passar as suas demandas e projetos. Este é um ponto de equilíbrio que talvez seja a nossa esperança. Como empreendedor, vejo que teremos que continuar trabalhando, buscando novos negócios e novos mercados. O mundo não para, então nós também não vamos parar. Somos os maiores exportadores de alguns setores específicos e muito importantes para o abastecimento global. O que precisamos é buscar o equilíbrio da balança comercial, pois o mundo do comércio exterior é muito importante para a nossa economia. A população em geral não sabe, mas em quase todos os produtos industrializados no Brasil, existem matérias-primas importadas’’, finaliza.
A relação Comex e Logística Internacional afeta diretamente no resultado das exportações e nos custos das importações. Cabe aos empresários estarem atentos às “jogadas” do governo e buscar sempre estar um passo à frente nas soluções de problemas e na busca de oportunidades.
A melhor postura, portanto, diante do cenário internacional da economia em 2023, é levar em consideração dois planos de ação, evitando surpresas e intercorrências no planejamento e na gestão dos negócios, no próximo ano. Uma boa medida é investir em padronização dos processos, otimizando o controle de informações e aumentando a qualidade da entrega.
O uso de tecnologias especializadas permitirá, num cenário de incertezas, a abertura de novos mercados e o fechamento de novos clientes com menor margem de erro.
*Com informações de Portal CN Comex